21 de dezembro de 2010

Rotina


Ver o mundo passar
De costas para o destino que o trem ruma.
As pessoas com seus olhares vazios e indiferentes.
Vagam em seus universos particulares.
Os trilhos serpenteando sob um sol ardido,
Cortam as velhas fábricas do Brás.
As paredes e vidraças antigas
Me fazem recordar algo que não vivi:
Operários, homens do labor,
Com suor frente a face,
Em movimentos contínuos e fatigantes.
Anseiam a mísera folga,
E um possível jantar com a família.
Nos ombros levam a exaustão,
Mas o dia do pagamento compensa tudo.
Olho novamente os rostos do meu vagão,
Marcados com linhas de expressão mal humoradas.
Seus corpos desabados nos bancos de plástico,
Revestidos de propaganda: roupas, sapatos e bolsas.
Descansam 30 minutos das 6,8 ou 12 horas cumpridas.
Seus pensamentos pendendo no máximo em dois pólos,
Família e comprar.
Doenças e comprar.
Eu e comprar.
Estão muito bem acomodados,
Nos bancos de suas vidas.
Vendo o mundo acontecer,
No frenesi do botão automático,
De costas para o destino,
Que poderiam um dia mudar.

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