5 de outubro de 2012

Que há de acontecer com meus olhos?


Que há de acontecer com meus olhos?
Que a cada dia menos veem?
De cegueira física sei que não se trata,
É cegueira de sensibilidade.

Ó, nuvens altas, brancas e esculpidas,
Que alegram o céu, tingidas de luz!
Como sinto vossa falta!
Falta de me transportar aí pra cima,
E flutuar sem rumo...

Sabiás queridos,
Agora pouco vos encontro.
E de vossos cantos ouço apenas fragmentos.
Tereis mudado de jardim?
Ou meus olhos e ouvidos
Não mais conseguem perceber-vos?

Meus olhos estão cerrados.
Estão colados de rotina.
Transbordados de informação.
Eles sabem que algo errado os ocorre.
Mas cansados de transbordar,
Querem logo se fechar,
E um pouco descansar.

Mas olhos de mim,
Reajam! Vejam!
Vejam a grandeza da vida
Na pequenez das coisas.
Mirem as crianças, o céu,
O chão, as árvores,
As frutas da feira!
Transformem as imagens
Em cheiros, texturas, sons e sabores!
Pois que delícia é sentir!
Sentir a vida.
Sentir e deleitar-se
Com a arte de olhar.

29 de fevereiro de 2012

Sonhando acordado

De onde quer que estivesse

aquela frase me trouxe de volta

Por onde viajei?

Não me recordo, pois tudo desapareceu

Em uma simples frase

Partindo de uma pequena sabedoria

Do auge de toda sua minúscula experiência

Derrubou-me, feito Davi e Golias

Com nome de Imperador e dando uma de pensador

Júlio César indagou-me, quando o meu olhar mirava o nada

“Papai, você está sonhando com os olhos abertos?”

Um sorriso instantâneo emergiu junto a uma perplexidade indescritível

“Sim meu filho... papai está sonhando acordado! Gostaria de me acompanhar?”

27 de fevereiro de 2012

Compreensão desejável

Por que é tão difícil compreendê-la?

Tamanha indiferença, tamanha incoerência

Teu sorriso enigmático me passa cinismo.

Teu olhar direcionado me desmonta,

Faz sentir-me o menos desejado, o menos preparado.

Por que? A troco de quê?

Não obstante, me tornaste distante

A despeito de tudo e de todos

Sou tão imaturo para entender agora? Pra que esperar?

Conte-me teus segredos, já que conheces todos meus anseios

Por favor, diga-me o que quero ouvir em nossa próxima conversa,

Não crie expectativas nulas ou desnecessárias.

Faça-me sonhar, faça-me desejar,

Intensamente... diariamente

Ajuda-me a compreender-te... VIDA!

1 de fevereiro de 2012

A velha casa


Naquela velha e humilde casa havia uma rotina
Levava uma vida singela, mas confortável.
Um dia desses veio uma visita imprevista
Que virou pelo avesso o meu dia-a-dia:
Morreram minha mãe e a minha alegria.

A casa foi invadida
A solidão, o mofo e as baratas
Fizeram dela moradia.
E logo mais chegou uma família de balela:
Ingênua, acreditei que pudessem me fazer companhia.

E todos aqueles amáveis costumes se modificaram
As coloridas pinturas na parede
Deram lugar a um relógio tosco e parado,
A antiga mobilha foi descartada,
E até as lágrimas de cristo* secaram.

Fiquei sem espaço,
Sem silêncio,
Sem contentamentos.

Abandonei a casa,
A casa hoje esta desabitada.
Analiso minha vida assim como deve se sentir aquela casa:
Saudosa e vazia.


*A Lágrima-de-Cristo é uma trepadeira de ramos longos, com folhagem e florescimento decorativos.

30 de janeiro de 2012

Infância


Uma canção de piano toca ao fundo

do meu repassar de lembranças.

Por vezes uma risada também,

Do tempo em que era de felicidade.

O mundo era mais cores, era crianças companheiras,

era a tarde de guloseimas.

Ter sol! Que alegria era!

Não era só pra ficar menos triste.

Era mesmo pra durar mais as brincadeiras.


26/01

15 de novembro de 2011


Já sentiste a vida em tuas mãos, caro leitor?
Digo, no sentido literal?
Pois eu acabo de sentir!
Sentir com as mãos um pulsar frenético das veias da garganta,
Sentir o palpitar bem ritmado, quente e orgânico...
Pois foi assim:
Lá estava eu, num cômodo escuro (escuro pela iluminação e pela cor das paredes negras),
E sob a luz de uma das poucas lâmpadas.
O resultado foi lindo!
Eu, ainda com as mãos no pescoço,
Embaixo daquele caminho de luz,
Inclinei minha cabeça e vi...
O que vi? Talvez o que pra você nunca fez a menor diferença.
Vi poeira voando! Isso mesmo! Poeira dançando... Correndo...
E quão sublime me senti!
Lembrei do universo.
Da negridão retratada nos livros.
Do grão de poeira estelar que sou para ele.
Do “Big Ban” passado e infinitamente presente e futuro.
Tudo ainda está por acontecer! E eu também!
Ó vida intrigante nas minhas mãos moças,
Sou eu uma consciência de ti?

9 de outubro de 2011

Ah, cá está ela!
Tenho a felicidade toda diante de mim!
Angústias e incertezas?
Larguei de mão...
Dei de ombros a tudo que me sufocava.
Quero agora só sorrir.
E se for pra chorar que seja de excesso de riso.
Como é bom (re)brincar o esconde-esconde da infância já ida;
Dançar sem parar deixando a alma conduzir o corpo;
Ver todos meus amigos queridos... e estar entre eles.
Mamãe ainda bem jovem, vovó ainda bem lúcida.
Nadinha de tristeza. Ser ímã de alegrias!
Bastando para tudo isso,
Apenas mudar a direção do caminhar.

5 de outubro de 2011

Ah, como é triste e frio o ambiente de um hospital.
Se ao menos essa exaustão me deixasse...
Estou exausta de tudo!
Meu corpo clama por cama – dormir!
Minha alma clama por paz – esquecimento!
Meu coração pede conforto – que minha avó volte viva desse recinto de morte.

Ah, que sensação mais estranha de ter a vida em um frasco frágil.
Que vontade de chorar por todos os que se foram;
Por todos os que sentem dor,
Por todos que estão sós,
Por cada pedaço de vida que se vai, seja ele qual for.

E Sobre os solitários, é bem verdade que estamos sempre sós.
Contudo, se sozinhos nascemos e sozinhos morremos,
Se a vida é assim mesmo,
Tão rara...
Única...
Breve.
Por que não desfrutar essa solidão nata ao lado de quem amamos?
Só o amor penetra a solidão.
Habita dentro da gente.
Aquece nosso coração.

Ah vovó querida...
Volte logo, estou te esperando.
Tens ainda que me fazer muitos bolinhos-de-chuva
E receber um bocado mais dos meus carinhos.

23 de setembro de 2011


Eu, navio abstrato num oceano infinito.
Nada de portos, nada de terra.
É tudo oceano e só há ele.
Um constante inconstante,
Um navegar eterno pra nenhum lugar.
Eu, navio sem comandante,
A mercê dos ventos e da ressaca,
Dominado pelas águas e diluído nelas.
Procuro, navego, adiante!
Nada.
Nada me guia.
Nada encontro.